sexta-feira, 4 de setembro de 2009

A Importância de "Der Rosenkavalier" de Richard Strauss


Esta é a mais amada de todas as óperas de Richard Strauss. O papel da Marechala é cobiçadíssimo entre as sopranos, e não é difícil entender por que: em todo o repertório operístico existente, não existe nenhum papel feminino mais delicado, mais doce e mais gentil do que o da Marechala - a única rival dela é a Condessa de “Le Nozze di Figaro”. Várias sopranos construiram suas carreiras passando por um longo processo de maturação, cantando primeiro a ingênua Sophie, depois o impetuoso Octavian, e só mais tarde - a coroação - assumindo a dignidade da Marechala. Elisabeth Schwarzkopf, Maria Reining e Kiri Te Kanawa são algumas das que mais se destacaram nesse papel.

A similaridade entre os papéis da Condessa e o da Marechala já foi notada: no final de “As Bodas de Fígaro”, é o aparecimento da Condessa que traz absolvição a todos os presentes, inclusive ao marido mulherengo. E no final de “Der Rosenkavalier”, a Marechala aparece, e perdoa o Barão (de certa forma), absolve Octavian, e dá sua bênção à união dele com Sophie.

Outras similaridades que se pode notar entre “Figaro” e “Der Rosenkavalier”. Ao começar o primeiro ato de “Le Nozze”, Fígaro está medindo o chão do quarto com uma régua, para ver se nele cabe uma cama (é a véspera do casamento dele); ao abrir-se a cortina no primeiro ato de “Der Rosenkavalier”, Octavian está na cama com a Marechala. Há um papel-travesti em “Figaro”; em “Der Rosenkavalier” também. Mas o relato que o Barão faz de suas conquistas amorosas na sua visita à Marechala no primeiro ato lembra a ária do catálogo de Don Giovanni.
“Der Rosenkavalier” é a mais mozartiana das óperas de Richard Strauss, mas a linguagem musical é muito moderna. Strauss recheou a partitura de valsas, o que é um anacronismo: não existia valsa em Viena na época de Mozart, a valsa só foi inventada mais tarde. Há também o toque requintado de inserir uma ária italiana no seio de uma ópera alemã (“Di rigori armato”, que Strauss compôs para o primeiro ato).

A idéia wagneriana do “gesamtkunstwerk” (obra de arte total) encontra sua perfeita expressão na cena da apresentação da rosa, em que o teatro, a poesia e a música se unem num todo corpóreo que não admite mutilação. O que vemos e o que ouvimos, o brilho metálico da rosa nas mãos de Octavian e aqueles sons super-agudos, quase no limite das freqüências audíveis, produzem uma experiência sensorial singular, ao mesmo tempo que Sophie diz, cheirando a rosa: “Ela tem um forte cheiro de rosas, de verdadeiras rosas”. Octavian: “Sim, uma gota de óleo de rosas importado da Pérsia foi espargida sobre ela”. Sophie: “Como rosas celestes, não rosas da terra. Rosas sagradas, rosas do paraíso”. É claro que quem está sentado na platéia não sente o cheiro da rosa, mas pelo menos a referência poética fica.

O sucesso da ópera foi enorme. Logo após a estréia havia trens lotados de gente só para ir assistir “Der Rosenkavalier”. Historiadores da arte e da cultura viram nesta ópera, composta pouco antes da primeira guerra mundial, que varreria do mapa o Império Austro-Húngaro e muitas outras monarquias européias, o canto de cisne da aristocracia moribunda.

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